Nick Souza transforma pluralidade cultural em funk: 'Meu som é a união de vivências' 2ix46
Cantor vive reencontro com suas raízes através da música 3h2il
Para Nick Souza, essa união não é só musical — é um ato de conexão, representatividade e propósito.
Em entrevista ao Terra, o cantor, compositor e produtor fala sobre o desafio de ser um elo entre o Brasil e o exterior, sua missão de dar visibilidade a sonoridades ainda racializadas e os próximos os da carreira, que incluem mais colaborações e um futuro disco.
Dono de uma trajetória marcada por autenticidade e pluralidade, Nick encara sua arte como ferramenta de transformação e reflete: "Minha missão não é sobre fama ou dinheiro. É sobre unir as pessoas em um mundo que insiste em nos dividir".
Sua infância no Canadá foi marcada por certa distância da cultura brasileira. Como foi esse reencontro com suas raízes musicais?
Nick Souza: Ótima pergunta. Sinto que um vazio dentro de mim vem sendo preenchido. A sensação é de que estava me comunicando com familiares que já aram para a "próxima vida", e conhecendo um lado meu que estava reprimido. Esse processo tem sido muito espiritual e realizador para mim.
MC Binn é um nome forte do funk e você vem de uma cena bem diferente. Como foi unir essas duas linguagens em "Posso Fingir"?
Nick Souza: Foi muito natural e orgânico, mesmo as nossas origens sendo bem diferentes. Acho que é isso que faz a música ser tão incrível. Ninguém nunca imaginou o MC Binn em um beat Jersey Club, mas rolou… Mesmo eu sendo um artista que ele nunca tinha ouvido falar. Ele entrou no som porque ouviu e o tocou. Não pediu dinheiro, não cobrou nada. Essa parceria foi guiada 100% pela força que a música tem de unir as pessoas. Isso é raro, e quando acontece é sempre bem especial. Com certeza tem a mão de Deus no meio.
Vivemos um momento de grande destaque da música brasileira fora do país. Como você se posiciona nesse movimento?
Nick Souza: Acho que a música brasileira é sempre muito respeitada no mundo inteiro. Às vezes até mais valorizada por gente de fora do que o próprio brasileiro. Mas acho que ainda falta um diálogo mais profundo entre a cultura brasileira e as culturas de fora. A Anitta está trilhando esse caminho com o estilo dela, e eu pretendo fazer o mesmo com o meu estilo. Eu quero ser um ponto de ligação mais profundo ainda, uma ponte.
Quais são os próximos os da sua carreira? Vem turnê, disco, mais colaborações?
Nick Souza: Mais colaborações, mais singles e mais conteúdo para subir minha visibilidade no meu público alvo, tanto aqui no Brasil como fora.
A sua música transita por gêneros que ainda são muito racializados. Como você vê seu papel nesse espaço?
Nick Souza: Meu papel é trazer conhecimento e diferenciais que não existiriam, caso eu não estivesse transitando por esses gêneros. Não é todo mundo que consegue fazer isso. Já que sou abençoado por conseguir, sinto que meu trabalho é abrir a cabeça das pessoas para ideias novas. Eu tenho uma perspectiva e um propósito forte e único. Quero conquistar tudo aquilo que tenho potencial de conquistar autenticamente. E através do meu sucesso buscar uma melhoria para todos que fazem parte dessa jornada.
Você já teve vontade de gravar algo inteiramente em português com elementos da MPB, por exemplo?
Nick Souza: Eu tenho a bagagem musical para conseguir fazer isso. Pode ser que em algum momento eu me aprofunde nisso. É um estilo que não me marcava tanto quanto os estilos que eu estou buscando agora, mas pode ser que role no futuro. A MPB tem um propósito muito forte, e tenho muito respeito.
Como você lida com o desafio de representar duas culturas diferentes ao mesmo tempo, sem perder autenticidade?
Nick Souza: Ótima pergunta de novo! Acho que a minha autenticidade existe em minha pluralidade como base, e que meu conhecimento permite que eu consiga me comunicar com todo tipo de pessoa. Eu sou um cara que é representado por culturas bem diferentes. Toronto, com apenas 6 milhões de habitantes, é a cidade mais multicultural do mundo. Muita gente diferente em muito pouco espaço. E o Brasil é o país mais multicultural do mundo. Sou um cidadão global em todos os sentidos. Falo inglês, português e espanhol fluentemente. Desenrolo bem no francês, no Italiano e até no patoá jamaicano (língua crioula falada principalmente na Jamaica e pela diáspora jamaicana), que é uma das culturas mais fortes de Toronto. Cresci indo para casa de amigos onde cada casa tinham pessoas de origens diferentes, culinárias diferentes, religiões diferentes, costumes diferentes. Acredito que, por causa disso, entendo várias paradas nesse mundão que outras pessoas talvez tenham dificuldade de compreender. É preciso ter mente aberta. Mas como o mundo está mais globalizado do que nunca, essa dinâmica tem ficando cada vez mais aparente na nova geração - e essa galera está procurando um lugar para se sentir verdadeiramente em casa.
O que você diria pro Nick do início da carreira?
Nick Souza: "Vai ser difícil, mas é muito gratificante. Você é o primeiro a representar o que você representa. Tem muita gente que não vai entender, mas também vai ter muita gente que se vê em você. E o caminho que você está trilhando é necessário para o desenvolvimento da humanidade. Não é sobre fama, dinheiro ou pra mostrar pra quem duvidou do que você é capaz. Sua missão é unir as pessoas em um mundo que cada vez mais o sistema quer dividir para dominar". Acho que se eu tivesse consciência disso mais cedo, eu tinha cometido menos erros [risos].