A crise política que culminou no atentado contra Miguel Uribe na Colômbia 6o2j1n
Presidente da Colômbia anunciou que ia um decreto para convocar uma consulta popular sobre as reformas trabalhistas, que eram criticadas pela oposição, incluindo Uribe 5v3s1o
Do lado de fora da Fundação Santa Fé de Bogotá, colombianos deixam flores, velas, bandeiras do país e rezam por Miguel Uribe Turbay. 6u3m4n
O senador de 39 anos do partido Centro Democrático está internado em estado gravíssimo nessa clínica, após ter sido baleado no sábado (07/06) durante um ato político em Bogotá.
Seu estado de saúde e os motivos da tentativa de homicídio têm deixado o país em suspense. Sabe-se que o suspeito, um jovem menor de idade, foi detido após o crime.
As autoridades trabalham com algumas hipóteses: um ataque ao que Miguel Uribe representa como senador de oposição, ao seu partido político ou até uma tentativa de desestabilizar o governo.
Atentar contra a vida de um pré-candidato à presidência da Colômbia em 2025 é como reabrir uma ferida dolorosa que parecia estar cicatrizada.
Para aqueles que viveram os piores anos da violência política do fim dos anos 80, quando Pablo Escobar estava em guerra contra as instituições públicas, esse atentado lembra aquela sangrenta campanha presidencial de 1989, quando três candidatos foram assassinados em apenas seis meses.
Apesar da barbárie cometida contra Uribe, é precipitado comparar a Colômbia de hoje com a daquela época.
"Se olharmos os dados, não temos mais a ameaça do narcotráfico daquela época. Por mais cruel que tenha sido esse atentado, não estamos mais no nível de submissão do Estado às ondas de violência que tivemos no ado", explica Laura Bonilla, subdiretora da Fundação Paz e Reconciliação (Pares), na Colômbia.
"Mas, sim, chamam atenção algumas semelhanças entre aquela época e a situação atual", acrescenta.
A Colômbia vive hoje uma disputa política tensa, protagonizada pelo confronto entre o governo de esquerda de Gustavo Petro e um amplo setor do Congresso.
O embate gira em torno das reformas propostas pelo presidente, que, em sua maioria, não conseguem consensos necessários para avançar.
Miguel Uribe, político do partido de direita Centro Democrático, critica Petro com frequência.
Tanto seu partido como o ex-presidente e fundador da legenda, Álvaro Uribe Vélez, costumam ser alvos de ataques do presidente contra seus opositores.
A disputa política atingiu um ponto crítico na última semana, que terminou com o país inteiro acompanhando, com apreensão, a luta pela sobrevivência de um político baleado em público.
A polêmica da reforma trabalhista 81j5t
Depois que a reforma trabalhista de Petro foi derrotada no Congresso em março deste ano, ele tentou lançar uma consulta popular para que o povo colombiano decidisse se apoiava, ou não, suas reformas.
A proposta de plebiscito foi rejeitada pelo Congresso em maio, mas Petro, alegando irregularidades na votação, anunciou que iria convocaria uma consulta popular por meio de um decreto.
A atitude gerou reação imediata da oposição, com vários juristas e especialistas alertando que, no mínimo, a medida poderia violar a ordem constitutional.
Horas antes do atentado, Miguel Uribe escreveu no X que entraria com uma ação judicial contra todos os ministros que assinassem o decreto.
Isso aconteceu logo depois do presidente afirmar, na mesma rede social, que "ministro que não o decreto presidencial, sai do governo na hora".
O já chamado "decretazo" aumentou ainda mais a tensão na última semana.
"A justificativa de Petro não parece convencer muito os especialistas e juristas. Dá a impressão de que ele está ultraando os limites no confronto com o Congresso, por mais que já tenha uma retórica agressiva contra ele", disse Yann Basset, cientista político da Universidade de Rosário na Colômbia.
'Retórica violenta' 6q2j42
O presidente é frequentemente criticado pelas suas longas postagens no X e por suas aparições na TV, em que costuma usar uma linguagem hostil contra seus adversários.
O atentado, mais precisamente, foi utilizado por alguns de seus rivais para criticar seu estilo de governo. Uma das declarações mais fortes veio do exterior.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, disse no X que "isso é uma ameaça direta à democracia e resultado da retórica violenta esquerdista vinda dos níveis mais altos do governo colombiano".
Durante seu pronunciamento na noite de sábado, Petro criticou aqueles que, segundo ele, estão politizando a tragédia.
"Também preciso repudiar a tentativa oportunista, baixa, de utilizar a dor da família e do próprio Miguel Uribe Turbay para fins políticos (...) Os padrões do crime repetem os padrões da morte da maioria dos líderes políticos da Colômbia."
O presidente não foi o único a usar as redes sociais para atacar seus opositores.
No caso da reforma trabalhista, enquanto os críticos mais moderados classificaram a consulta popular como inconstitucional, os mais fervorosos acusaram Petro de ser autoritário e "ditador".
"Petro cruza a linha e se torna um ditador! Convocar sua consulta por decreto é um golpe contra a democracia, um abuso de poder escancarado (...) As Forças Armadas da Colômbia devem estar em alerta diante de qualquer ataque à Constituição e à democracia por parte de Petro e seu governo", disse a pré-candidata direitista Vicky Dávilla em uma série de publicações no X entre 3 e 4 de junho.
Um ado traumatizante 635j2c
Embora alerte que é preciso ter cautela para não tratar o assunto de forma leviana, Laura Bonilla vê no clima político colombiano de 2025 semelhanças com a onda de violência do fim dos anos 80.
"O fato disso acontecer justamente na chegada do primeiro governo de esquerda da Colômbia faz com que, na memória coletiva, o ado venha à tona", explica.
Naqueles fatídicos seis meses entre 1989 e 1990, os três candidatos assassinados eram de esquerda.
O primeiro, Luis Carlos Galán Sarmiento, líder da luta contra o narcotráfico e a corrupção, morreu em 18 de agosto de 1989, após ser baleado por pistoleiros em uma ação atribuída ao cartel de Medellín, com apoio de setores corruptos do Estado.
Menos de um ano depois, em 22 de março e em 26 de abril de 1990, foram assassinados, respectivamente, Bernardo Jaramillo Ossa e Carlos Pizarro Leongómez.
Jaramillo Ossa era membro da União Patriótica, aliança fundada em 1985 por integrantes das Farc-EP e do Partido Comunista Colombiano.
Pizarro Leongómez era candidato da Aliança Democrática M-19, que surgiu a partir da desmobilização da guerrilha esquerdista M-19.
A própria mãe de Miguel Uribe, Diana Turbay, morreu em 1991 durante uma tentativa de resgate, após ar três meses sequestrada por homens comandados por Pablo Escobar.
Mais líderes políticos, jornalistas e civis morreram durante aquela onda de violência, em crimes cometidos por facções tanto de direita quanto de esquerda.
Aqueles anos marcaram o ponto mais crítico de uma história política banhada em sangue na Colômbia, sendo o assassinato do líder Jorge Eliécer Gaitán, em 1948, o desencadeador para muitos episódios de violência e guerra que, por décadas, estigmatizaram o país.
Desde então, políticos, membros das forças de segurança, sindicalistas, ambientalistas e líderes sociais vivem sob frequentes ameaças de morte, pressões e atentados.
A taxa de assassinatos na Colômbia está entre as mais altas da região, junto com Equador, Brasil e Honduras.
Segundo a fundação Insight Crime, dedicada a investigar a segurança na América Latina e Caribe, em 2024 a Colômbia registrou uma taxa de assassinatos de 25,4 por cada 100 mil habitantes, a mais baixa dos últimos quatro anos.
Em 1990, a taxa de homicídios superava 70 por 100 mil habitantes.
Com uma clara tendência de queda, comparar a Colômbia de hoje com a do ado é, no mínimo, precipitado.
Pode-se até argumentar que o simples fato do país ter eleito, há três anos, seu primeiro presidente esquerdista é sinal de amadurecimento democrático.
Mas os dados dificilmente tranquilizarão aqueles que, nos últimos dias, revivem, traumatizados, os fantasmas de um tempo sombrio.