Transposição do São Francisco não foi desativada; Ceará não pediu água para barragem de Jati s3u48
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO E COMPANHIA DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS DO CEARÁ EXPLICAM QUE FLUXO É LIBERADO NOS CANAIS CONFORME A NECESSIDADE, E NÃO DE MODO CONTÍNUO 6g6y6d
O que estão compartilhando: que, após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) levar água da Transposição do São Francisco ao Nordeste, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "desativou" a Transposição, já que não há água nas cascatas da Barragem de Jati (CE). 595r41
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. As cascatas da barragem estão sem água da Transposição porque o governo do Ceará não pediu liberação de água. O fluxo do São Francisco segue um planejamento anual, em que cada Estado pede uma determinada quantidade de água. No caso cearense, graças às chuvas deste ano, 60 açudes transbordaram no Estado e, atualmente, há 41 deles vertendo água. As reservas estão com 55% do volume total. Isso quer dizer que o Ceará no momento consegue suprir sua própria demanda de água sem precisar da Transposição.
O vídeo investigado foi usado em uma publicação do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), que faz uma série de alegações falsas sobre a Transposição, incluindo a de que Lula desativou a estrutura. Ele foi procurado, mas não respondeu.
O Verifica questionou o MIDR sobre a razão da paralisação do fluxo de água. Em nota, o MIDR disse que os canais mostrados no vídeo estão sem receber água no momento porque não há demanda.
"O Ministério enfatiza que todos os reservatórios estão em condições operacionais para atendimento aos estados e segue à disposição para a liberação das águas do PISF, caso seja necessário. Apenas para o Estado do Ceará foram entregues mais de 1,5 milhão de m³ de água apenas em 2025", disse a nota.
Diferentemente do que diz o vídeo checado pelo Verifica, não foi apenas no atual governo a água deixou de correr no local. Em 2020, na gestão Bolsonaro, houve um rompimento na tubulação da barragem e 2 mil pessoas que vivem no entorno precisaram sair de casa. Após o reparo, a água voltou a correr no local, mas houve mais interrupções em 2021.
Em 2022, Bolsonaro inaugurou a Estação de Bombeamento EBI-3 e as águas voltaram às cascatas, e em outubro houve mais uma paralisação, que só se encerrou em dezembro. No início de 2023, já no governo Lula, a EBI-3 foi fechada para o reparo em uma motobomba com vibração excessiva, problema detectado no ano anterior. Em 2024, o mesmo ponto foi alvo de desinformação quando a barragem ava por uma manutenção programada.
Barragem no Ceará está paralisada para manutenção programada, diferentemente do que diz vídeo
Não há provas de sabotagem no rompimento em barragem da transposição no Ceará
Chuvas no Ceará permitiram acúmulo de água em reservatórios
Apesar de não haver água correndo pelas cascatas da Barragem de Jati, a região não está desabastecida. De acordo com a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará, não há nenhum município cearense com racionamento de água no momento.
"Em 2025, 60 açudes dos 157 monitorados pela Cogerh sangraram. Atualmente, 40 reservatórios continuam vertendo, com o Ceará tendo 55% do volume total das reservas", disse a Companhia.
Na tarde desta quarta-feira, 14, este mapa da própria Cogerh mostrava 41 açudes sangrando, e não 40. Um deles é o açude Orós, o segundo maior do Ceará, que não enchia há 14 anos, como mostrou o Estadão.
Dos 157 açudes cearenses, além dos 41 vertendo água, 13 estavam em situação considerada "muito crítica", ou seja, com até 10% do volume de água armazenado. Outros 17 tinham situação "crítica" - entre 10,1% e 30% do volume. Mais 17 tinham situação considerada de "alerta", com volume entre 30,1% e 50%. A situação era considerada "confortável" em 22 açudes (de 50,1% a 70% do volume de armazenamento) e "muito confortável" em 47 deles (70,1% a 100% do volume).
Essa variação na situação dos açudes se dá ao fato de que as chuvas, apesar de abundantes, não terem sido tão bem distribuídas no Estado. Esta reportagem do Diário do Nordeste mostra como o excesso de chuva no litoral e a falta dela no Sertão Central preocupava produtores no mês de março.
Dados desta quarta-feira, 14, do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD), do governo federal, mostram que o Ceará tinha 36 municípios em situação de emergência: 23 por estiagem, seis por seca, cinco por chuvas intensas, um por enxurradas e um por vendaval. Nenhum deles fica nas imediações da Barragem de Jati.
