Edição de 2025, que destacou os melhores da música em cerimônia na noite de quarta-feira, equilibrou convidados de diferentes escolas e gêneros com um sarrafo musical elevado 4u1z4h
O programa proposto na noite de premiação de quarta-feira, 4, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a batuta de José Maurício Machline e Giovanna Machline, com roteiro assinado por Zélia Duncan, atuou como uma espécie de filtro de bom gosto estabelecido, tentando equilibrar convidados de diferentes escolas e gêneros, com um sarrafo musical elevado. A dupla de apresentadores Nanda Costa e Fabrício Boliveira, desenvolta, conseguiu narrar com leveza e riqueza de detalhes a trajetória dos dois irmãos paranaenses, com mérito do texto. Os encontros e duetos, porém, tiveram resultados desiguais.
Amparada pelo acordeão do sergipano Mestrinho, a paranaense Carol Biazin, 28 anos, foi a primeira a cantar ao vivo, entoando o clássico caipira Tristeza do Jeca; depois vieram os matogrossenses Bruna Viola e Mayk (da dupla com o irmão Lyan), dois craques da viola, para levantar a energia com 60 Dias Apaixonado. Mayck e Lyan emendaram com o hino Coração Sertanejo, e logo voltaram Carol e Mestrinho. Como bela surpresa, surgiu Hamílton de Holanda solando ao bandolim a melodia de Chovendo na Roseira, de Tom Jobim (gravada por Chitãozinho e Xororó no álbum Tom do Sertão, de 2015).
Esse bloco inicial expôs bem o conceito de Machline, de mais que homenagear a dupla ou o gênero sertanejo em si, mostrar as possibilidades do repertório escolhido por Chitãozinho e Xororó ao longo da carreira. A direção musical e o Yamaha elétrico ficaram a cargo de Cláudio Paladini, que toca há 26 anos com a dupla. Ele juntou-se a três de seus colegas da banda - o baixista Alex Mesquita e os guitarristas Adilson Pascoalini e Guiza Ribeiro -, e completou o time com o percussionista Armando Marçal, o baterista Cesinha, o violonista e bandolinista Gustavo Pereira, e o acordeonista Toninho Ferragutti. Antes da parte final, os mestres de cerimônia pediram simpaticamente ao público "uma salva de carinhos para os músicos que nos encantaram", mas só citaram o nome do diretor musical. Vacilo. Menos mal que o maestro Julinho Teixeira, autor do arranjo de Evidências, recebeu uma honraria especial, o Prêmio do Músico Brasileiro.
No segundo número da noite, veio um encontro que funcionou muito bem: a matogrossense Vanessa da Mata com o pernambucano Fitti, mergulhando no Brasil profundo e desaguando histrionicamente no vizinho Paraguai de Galopeira (versão de tema paraguaio que foi um dos primeiros sucessos de C & X). Na emenda, investiram na teatralidade de uma Vá Pro Inferno Com Seu Amor saudavelmente rock'n'roll.
Fábio Jr., aos 71 anos, comoveu mais pela figura, meio pai, meio avô (e tio, como é chamado por Sandy e Junior). Mas seu dueto com a jovem e doce xodozeira Agnes Nunes foi um Fogão de Lenha em chama baixa (em que pese o beijão tascado por Fábio no rosto dela, que terminou a canção às lágrimas).
Os encontros que tentaram trazer o repertório para um lado cool não foram muito bem sucedidos. A versão meio bossa meio do caminho de No Rancho Fundo apresentada por João Bosco, Sandy e Mestrinho ficou bem abaixo da soma dos talentos envolvidos. Sensação do piseiro, o pernambucano João Gomes acabou sendo ofuscado pelos irmãos Mayck e Lyan na sequência Fio de Cabelo e Menino da Porteira. Lenine e Lauana Prado se esforçaram, mas sua Nuvem de Lágrimas deixou uma saudade imensa da gravação derramada de Fafá de Belém. Por algum contratempo técnico, Paula Fernandes e Tiago Iorc tiveram sua entrada no palco adiada e quase não puderam cantar Meu Disfarce - em dueto que pouco acrescentou à noite.
O repertório de Chitãozinho e Xororó pode parecer fácil, mas não é. Tem gravações e regravações muito poderosas na memória afetiva, exige entrega e verdade. Mas sempre é possível vencer com uma visão destemida e inovadora: assim ensinaram Junior Lima e o trio de R&B pop de São Gonçalo (RJ) Os Garotin (vencedores na categoria Revelação), que levantaram a plateia do Municipal e receberam apoio geral em um coro no final à capella.
Melhor resposta que a deles, só no gran finale com os homenageados da noite: depois de emocionar com Saudade da Minha Terra e Se Deus Me Ouvisse, Chitãozinho e Xororó, cantando muuuito, providenciaram a apoteose coletiva esperada em Evidências.
O elemento kitsch (que não poderia faltar) da produção ficou por conta dos bailarinos em figurino country Las Vegas que entravam agitados antes do anúncio dos premiados (sempre em pares de categorias ocasionalmente díspares, começando por Samba e Rock).
Na lista de premiados, sem grandes surpresas, teve para quase todo mundo, em 17 categorias: de Hermeto Pascoal e Amaro Freitas a Emicida, ando por Alceu Valença, João Bosco, Odair José e até Rita Lee (por Volare, Melhor Projeto Audiovisual). Nos prêmios de Sertanejo, João Gomes, em escolha pouco ortodoxa, levou como Artista, e Lauana Prado faturou por Lançamento.
Zeca Pagodinho, primeiro vencedor a subir no palco, veio de terno e gravata para levar para casa os dois prêmios de Samba: Melhor Artista e Melhor Lançamento (pelo audiovisual 40 Anos Ao Vivo). Liniker, ganhadora como Melhor Artista Pop e Melhor Lançamento Pop, não compareceu. E houve quem fizesse pior. Além de não estar presente, o compositor e cantor goiano vencedor por Melhor Lançamento de Música Romântica tampouco enviou alguém para receber seu prêmio, o que gerou muitos risos na plateia do Municipal quando Nanda Costa anunciou, sem graça: "Grelo não mandou representante".
